Desigualdade alimentar: por que gestantes do Nordeste se alimentam melhor que as do Sul e Sudeste

Estudo revela que as nordestinas estão mais próximas de alimentos naturais, enquanto as outras comem mais ultraprocessados. Série do g1 mostra o peso da alimentação, a partir da formação da vida até gerações futuras, e importância de nutrir bem para combater a desigualdade. Prato de comida mostra refeição considerada saudável, rica em alimentos nutritivos e pouco calóricos. Globo Repórter De um lado, arroz, feijão e salada. Do outro, comida de micro-ondas e fast food. Quando o assunto é comer, não é difícil responder qual o caminho mais saudável. No entanto, o privilégio de escolher qual seguir não está ao alcance de todos. É que, dos hábitos culturais aos fatores socioeconômicos, tudo influencia na qualidade da alimentação. Um exemplo disso está em um estudo desenvolvido na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que associa o estado nutricional materno com desfechos gestacionais. ???? Participe do canal do g1 Campinas no WhatsApp ???? A pesquisa mostra que, enquanto as nordestinas estão mais próximas dos chamados 'in natura', as grávidas que vivem no Sul e Sudeste, especialmente nas periferias, acabam dando mais espaço para ultraprocessados. Em resumo, rotina e ambiente refletem no prato. ???? O achado é da pesquisadora e nutricionista Maria Julia de Oliveira Miele, vencedora do Prêmio Capes de Tese 2023 na categoria Medicina III. O trabalho também é ponto de partida para uma série de reportagens do g1. Em cinco matérias, você entenderá qual o peso da alimentação a partir da formação da vida, dos impactos à gestação até aspectos sociais, e por que uma nutrição adequada pode ser aliada no combate à desigualdade. Nesta reportagem, a primeira da série, você vai ver: O que é se alimentar bem Como as grávidas brasileiras se alimentam O que podemos tirar disso Antes de mais nada, o que é se alimentar bem? A resposta parece e é muito simples, como afirma Maria Júlia. “Se alimentar bem envolve comer alimentos ricos em nutrientes e vitaminas, se preocupar com a quantidade de calorias e beber bastante água. Principalmente na gestação, importante fazer refeições ao longo do dia, não ter longos períodos de jejum”. A nutricionista destaca que os alimentos possuem composições que vão além das vitaminas. Entre aqueles que todo mundo sabe que são saudáveis, como frutas e verduras, mais ainda. Isso porque, “existe uma interação, uma riqueza entre os próprios alimentos, onde você encontra toda uma combinação”. “Isso vai além de um simples suplemento alimentar, algo que não se encontra em uma pílula de repor vitaminas. O alimento é muito mais rico que isso”. ✍️ Sendo assim, de forma muito simples, se alimentar bem inclui: Optar por alimentos naturais, ricos em nutrientes e vitaminas, como frutas e verduras; Evitar alimentos muito calóricos, com gorduras trans e saturadas; Evitar alimentos industrializados e ultraprocessados; Fazer refeições regulares e, principalmente entre grávidas, evitar longos períodos de jejum; Tomar bastante água. A alimentação das grávidas brasileiras De acordo com a pesquisadora, que também é consultora internacional para consumo alimentar da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, na sigla em inglês), apenas em 2015 mais de 300 mil mulheres morreram em decorrência de complicações da gravidez e mais de 2 milhões de natimortos – bebês que nascem sem vida – foram registrados. Entre as complicações que podem ser fatais para esses grupos estão doenças que podem ser revertidas com uma boa alimentação. Para demonstrar isso, a pesquisadora analisou os hábitos alimentares de 1,5 mil mulheres – todas no primeiro parto – de cinco centros de saúde do Nordeste, Sul e Sudeste. O objetivo era, justamente, identificar similaridades e diferenças entre as regiões. “Uma coisa é a pessoa não grávida se alimentar de uma maneira não saudável, não preocupada com o que está comendo. Outra coisa é uma pessoa que está engravidando pela primeira vez, que a gente imagina que vai ter um cuidado maior. E esse foi exatamente o ponto que a gente buscou observar”, explica a nutricionista. Veja os principais pontos: Grávidas do Nordeste ???? Segundo o estudo, elas tendem a se preocupar mais e se alimentar com mais qualidade, apostando mais em alimentos naturais e sem processamentos industriais; ???? As refeições delas têm altas quantidades de produtos lácteos e feijão – quase o dobro das outras duas regiões analisadas. Destaque também para as castanhas, ricas em selênio e zinco; ???? As pacientes comiam menos calorias em quantidade, mas tinham níveis de vitaminas muito superiores; ???? Praticamente todas as nordestinas que participaram do estudo tinham um consumo alimentar melhor que o da região Sudeste. Grávidas do Sul e Sudeste ???? São mais adeptas de comidas práticas, menos elaboradas e pobres em nutrientes, do tipo 'heat and eat' (do inglês, esquente e coma); ???? Costumam manter uma alimentação mais rica em produtos industrializados e ultraprocessados. Comem muito hambúrguer, presunto

Mar 8, 2024 - 17:38
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Desigualdade alimentar: por que gestantes do Nordeste se alimentam melhor que as do Sul e Sudeste

Estudo revela que as nordestinas estão mais próximas de alimentos naturais, enquanto as outras comem mais ultraprocessados. Série do g1 mostra o peso da alimentação, a partir da formação da vida até gerações futuras, e importância de nutrir bem para combater a Desigualdade. Prato de comida mostra refeição considerada saudável, rica em alimentos nutritivos e pouco calóricos. Globo Repórter De um lado, arroz, feijão e salada. Do outro, comida de micro-ondas e fast food. Quando o assunto é comer, não é difícil responder qual o caminho mais saudável. No entanto, o privilégio de escolher qual seguir não está ao alcance de todos. É que, dos hábitos culturais aos fatores socioeconômicos, tudo influencia na qualidade da alimentação. Um exemplo disso está em um estudo desenvolvido na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que associa o estado nutricional materno com desfechos gestacionais. ???? Participe do canal do g1 Campinas no WhatsApp ???? A pesquisa mostra que, enquanto as nordestinas estão mais próximas dos chamados 'in natura', as grávidas que vivem no Sul e Sudeste, especialmente nas periferias, acabam dando mais espaço para ultraprocessados. Em resumo, rotina e ambiente refletem no prato. ???? O achado é da pesquisadora e nutricionista Maria Julia de Oliveira Miele, vencedora do Prêmio Capes de Tese 2023 na categoria Medicina III. O trabalho também é ponto de partida para uma série de reportagens do g1. Em cinco matérias, você entenderá qual o peso da alimentação a partir da formação da vida, dos impactos à gestação até aspectos sociais, e por que uma nutrição adequada pode ser aliada no combate à Desigualdade. Nesta reportagem, a primeira da série, você vai ver: O que é se alimentar bem Como as grávidas brasileiras se alimentam O que podemos tirar disso Antes de mais nada, o que é se alimentar bem? A resposta parece e é muito simples, como afirma Maria Júlia. “Se alimentar bem envolve comer alimentos ricos em nutrientes e vitaminas, se preocupar com a quantidade de calorias e beber bastante água. Principalmente na gestação, importante fazer refeições ao longo do dia, não ter longos períodos de jejum”. A nutricionista destaca que os alimentos possuem composições que vão além das vitaminas. Entre aqueles que todo mundo sabe que são saudáveis, como frutas e verduras, mais ainda. Isso porque, “existe uma interação, uma riqueza entre os próprios alimentos, onde você encontra toda uma combinação”. “Isso vai além de um simples suplemento alimentar, algo que não se encontra em uma pílula de repor vitaminas. O alimento é muito mais rico que isso”. ✍️ Sendo assim, de forma muito simples, se alimentar bem inclui: Optar por alimentos naturais, ricos em nutrientes e vitaminas, como frutas e verduras; Evitar alimentos muito calóricos, com gorduras trans e saturadas; Evitar alimentos industrializados e ultraprocessados; Fazer refeições regulares e, principalmente entre grávidas, evitar longos períodos de jejum; Tomar bastante água. A alimentação das grávidas brasileiras De acordo com a pesquisadora, que também é consultora internacional para consumo alimentar da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, na sigla em inglês), apenas em 2015 mais de 300 mil mulheres morreram em decorrência de complicações da gravidez e mais de 2 milhões de natimortos – bebês que nascem sem vida – foram registrados. Entre as complicações que podem ser fatais para esses grupos estão doenças que podem ser revertidas com uma boa alimentação. Para demonstrar isso, a pesquisadora analisou os hábitos alimentares de 1,5 mil mulheres – todas no primeiro parto – de cinco centros de saúde do Nordeste, Sul e Sudeste. O objetivo era, justamente, identificar similaridades e diferenças entre as regiões. “Uma coisa é a pessoa não grávida se alimentar de uma maneira não saudável, não preocupada com o que está comendo. Outra coisa é uma pessoa que está engravidando pela primeira vez, que a gente imagina que vai ter um cuidado maior. E esse foi exatamente o ponto que a gente buscou observar”, explica a nutricionista. Veja os principais pontos: Grávidas do Nordeste ???? Segundo o estudo, elas tendem a se preocupar mais e se alimentar com mais qualidade, apostando mais em alimentos naturais e sem processamentos industriais; ???? As refeições delas têm altas quantidades de produtos lácteos e feijão – quase o dobro das outras duas regiões analisadas. Destaque também para as castanhas, ricas em selênio e zinco; ???? As pacientes comiam menos calorias em quantidade, mas tinham níveis de vitaminas muito superiores; ???? Praticamente todas as nordestinas que participaram do estudo tinham um consumo alimentar melhor que o da região Sudeste. Grávidas do Sul e Sudeste ???? São mais adeptas de comidas práticas, menos elaboradas e pobres em nutrientes, do tipo 'heat and eat' (do inglês, esquente e coma); ???? Costumam manter uma alimentação mais rica em produtos industrializados e ultraprocessados. Comem muito hambúrguer, presunto e misto quente, mas pouco feijão com arroz. Alimentações diferentes, realidades diferentes Prato de comida com bife, feijão, batata frita, arroz e salada Reprodução/EPTV Para a nutricionista, a alimentação das gestantes de cada região é um reflexo do estilo de vida que se leva nesses lugares. Porém, alguns pontos chamam atenção. No Nordeste, estar em contato com comida fresca e se preocupar com o que ingerir na gravidez era, praticamente, cultural. Já no Sul e, principalmente, no Sudeste, as pacientes demonstraram com mais frequência que não tinham muito tempo para isso. “Nos acompanhamentos a gente perguntava: 'o que você comeu no intervalo das refeições?'. As nordestinas tinham sempre um punhado de castanha, uma fruta. As outras vinham com um salgadinho na bolsa. Abriam e começavam a comer no meio da consulta. As do Nordeste tomavam suco de fruta quase todo dia e as do Sul e Sudeste, quando tomavam, era suco em pó ou de caixinha. Achavam que era a mesma coisa”. ???? Embora não sejam determinantes, alguns fatores sociais podem explicar a disparidade, segundo Maria Julia: Hábitos culturais: as nordestinas eram mais próximas dos alimentos naturais e tendiam a se preocupar mais com o preparo dos alimentos. Iam para a cozinha, cuidavam dos temperos e faziam as próprias refeições. Ritmo de vida: no Sul e no Sudeste, especialmente em regiões periféricas onde o dia a dia tende a ser mais ‘corrido’ e se perde mais tempo para ir e voltar do trabalho, por exemplo, havia uma tendência maior de comer qualquer lanche para matar a fome, especialmente fast food. Esses pontos reforçam que nem todo mundo pode escolher o que vai comer. Seja por falta de conhecimento do que realmente é saudável ou pela impossibilidade de preparar algo mais nutritivo, comer bem nem sempre é uma decisão simples, pois está ligada a muitos aspectos que vão além da boa vontade. Consequências no agora e no amanhã Além de afetar a saúde materna de forma mais imediata, no decorrer da gestação, a falta de uma alimentação equilibrada nessa fase da vida também prejudica o desenvolvimento do feto. O bebê pode ficar mais suscetível a doenças e más-formações que o acompanharão durante toda a vida. Veja as outras reportagens dessa série: Saúde da mãe e cérebro do bebê: como a má nutrição na gravidez pode afetar gerações futuras e perpetuar a Desigualdade Fome oculta: entenda por que o corpo pode estar mal nutrido mesmo quando nos sentimos saciados Da comida à poluição: entenda como fatores ambientais podem causar alterações genéticas mesmo após o nascimento Como políticas públicas para alimentação saudável podem quebrar ciclo geracional de pobreza VÍDEOS: Tudo sobre Campinas e região Veja mais notícias da região na página do g1 Campinas.

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