Látex, remédios, frutas e até Sol! Capixabas com alergias falam sobre as dificuldades do dia a dia com a doença

Casos exigem grande mudança na rotina, que passa a ser cercada de cuidados e restrições, e influenciam até mesmo na hora de aceitar um novo emprego, receber um atendimento médico ou definir uma viagem. Capixabas com alergias falam sobre as dificuldades do dia a dia com a doença Blusa de manga comprida com proteção a raio ultravioleta, chapéu e protetor solar são itens indispensáveis no dia a dia da Miriam Afonso Krusemark, de 53 anos, desde quando ela descobriu que tinha alergia ao Sol. O diagnóstico foi feito em março de 2015. Miriam contou que, até então, nunca tinha tido problemas com o astro-rei, apesar de ter a pele muito clara. Assim como ela, muitas pessoas convivem com os mais diversos tipos de alergias. Compartilhe no WhatsApp Compartilhe no Telegram Em 2015, a assistente executiva estava na casa da mãe em Manguinhos, na Serra, Grande Vitória, rastelando o quintal quando começou a sentir uma coceira. Ela estava de biquíni e perebeu que estava toda vermelha e inchada. Começou pelas costas e apareceu de uma hora para outra. Rapidamente, começou também a sentir tontura, teve queda de pressão e vômito. Miriam ficava vermelha com facilidade quando se expunha muito ao ar livre, mas a pele queimava como a de qualquer outra pessoa. Jogava vôlei de praia, ia à feira, fazia caminhada, sempre exposta, mas com protetor solar. Por isso nunca desconfiou de nada de diferente. Apesar do susto, a família percebeu que se tratava de um processo alérgico - só não imaginou o que tinha provocado - e deram remédio antialérgico e um banho frio. Aos poucos, a pele foi clareando novamente. Miriam foi ao médico na mesma semana, fez alguns testes e veio o diagnóstico de urticária solar, ou seja, alergia ao Sol. Miriam Afonso Krusemark, de 53 anos, tem alergia ao sol. Arquivo pessoal "Eu fiz testes, expunha partes do corpo ao sol e mandava fotos para o médico, e o diagnóstico foi certeiro. A urticária solar é um processo alérgico mesmo, como no caso de uma alergia alimentar. Em um primeiro momento, chorei muito, imediatamente você pensa nas coisas que não vai poder mais fazer. Mas depois vem a compreensão e a adaptação à nova rotina", conta. A exposição aos raios ultravioletas lança histamina no corpo, pode provocar o fechamento da glote, desmaios e até choque anafilático. Hoje, depois de nove anos convivendo com a doença, a mulher sabe o que fazer se sofrer uma reação, sabe o tempo que deve levar para melhorar e também que o inchaço some e a vermelhidão não deixam cicatrizes. Mesmo conhecendo a doença e tendo um plano de ação, ela faz o possível para que a reação não ocorra. Para sair de casa para uma caminhada, Miriam precisa estar toda protegida, com protetor solar, roupas específicas para sua proteção e boné. Arquivo pessoal "Eu evito os horários críticos do Sol. Só depois das 16h30, arrisco uma caminhada e sempre com protetor solar, roupas compridas com proteção contra raios UV e boné. Boné é fundamental já que eu não consigo passar protetor na cabeça". Mas ela precisou se adaptar a outras atividades que fazia rotineiramente. "Feira livre, vôlei de praia, caiaque, passeio de barco são coisas que não faço mais. Não pego ônibus, só saio de carro durante o dia se souber que vou conseguir estacionar perto do lugar que preciso ir. Encontros com amigos e familiares normalmente são à noite, de dia só se for num local bem protegido do Sol", contou. ???? Clique aqui para seguir o canal do g1 ES no WhatsApp "Antes de sair, eu também olho um aplicativo que fala da incidência de raios ultavioleta. Me protejo e vou. E olha que não é só o Sol direto na pele, é o Sol refletido também, ou seja, se eu estiver num local com uma sombra parcial ou muito pequena, também sinto os efeitos", finaliza. Miriam até já rejeitou proposta de emprego por causa da alergia. "A minha sorte é que eu trabalho em escritório, fechado. Eu já recebi propostas para mudar de função, de promoção, mas não pude aceitar por causa disso", disse. Ao sair do trabalho e caminhar até um restaurante próximo, a Miriam ficou assim, vermelha e com a marca da cordinha do crachá. Arquivo pessoal Com o diagnóstico e o laudo médico, Miriam pôde ter acesso a alguns benefícios de pessoas com deficiência física, como, por exemplo, o direito ao uso de vagas de estacionamento prioritárias, para estar sempre mais próximo da entrada dos locais onde precisa ir. Na época em que recebeu o diagnóstico, Miriam encontrou um grupo no Facebook de pessoas do mundo inteiro com urticária solar. Na rede, eles compartilhavam depoimentos e até resultados de testes de dessensibilização e supostos remédios que ajudavam no quadro. Ela própria, entretanto, não teve sucesso com essas tentativas. Quando necessário, faz uso apenas de antialérgico, o que aumenta um pouco a sua tolerância ao Sol, mas não evita a reação. LEIA TAMBÉM: VÍDEO: Represa é esvaziada e toneladas de peixes são doadas no ES VÍDEO: Médica e enfermeira deixam de desfilar no Carnaval de Vitória, saem correndo para fazer parto

Mar 8, 2024 - 17:38
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Látex, remédios, frutas e até Sol! Capixabas com alergias falam sobre as dificuldades do dia a dia com a doença

Casos exigem grande mudança na rotina, que passa a ser cercada de cuidados e restrições, e influenciam até mesmo na hora de aceitar um novo emprego, receber um atendimento médico ou definir uma viagem. Capixabas com alergias falam sobre as dificuldades do dia a dia com a doença Blusa de manga comprida com proteção a raio ultravioleta, chapéu e protetor solar são itens indispensáveis no dia a dia da Miriam Afonso Krusemark, de 53 anos, desde quando ela descobriu que tinha alergia ao Sol. O diagnóstico foi feito em março de 2015. Miriam contou que, até então, nunca tinha tido problemas com o astro-rei, apesar de ter a pele muito clara. Assim como ela, muitas pessoas convivem com os mais diversos tipos de alergias. Compartilhe no WhatsApp Compartilhe no Telegram Em 2015, a assistente executiva estava na casa da mãe em Manguinhos, na Serra, Grande Vitória, rastelando o quintal quando começou a sentir uma coceira. Ela estava de biquíni e perebeu que estava toda vermelha e inchada. Começou pelas costas e apareceu de uma hora para outra. Rapidamente, começou também a sentir tontura, teve queda de pressão e vômito. Miriam ficava vermelha com facilidade quando se expunha muito ao ar livre, mas a pele queimava como a de qualquer outra pessoa. Jogava vôlei de praia, ia à feira, fazia caminhada, sempre exposta, mas com protetor solar. Por isso nunca desconfiou de nada de diferente. Apesar do susto, a família percebeu que se tratava de um processo alérgico - só não imaginou o que tinha provocado - e deram remédio antialérgico e um banho frio. Aos poucos, a pele foi clareando novamente. Miriam foi ao médico na mesma semana, fez alguns testes e veio o diagnóstico de urticária solar, ou seja, alergia ao Sol. Miriam Afonso Krusemark, de 53 anos, tem alergia ao sol. Arquivo pessoal "Eu fiz testes, expunha partes do corpo ao sol e mandava fotos para o médico, e o diagnóstico foi certeiro. A urticária solar é um processo alérgico mesmo, como no caso de uma alergia alimentar. Em um primeiro momento, chorei muito, imediatamente você pensa nas coisas que não vai poder mais fazer. Mas depois vem a compreensão e a adaptação à nova rotina", conta. A exposição aos raios ultravioletas lança histamina no corpo, pode provocar o fechamento da glote, desmaios e até choque anafilático. Hoje, depois de nove anos convivendo com a doença, a mulher sabe o que fazer se sofrer uma reação, sabe o tempo que deve levar para melhorar e também que o inchaço some e a vermelhidão não deixam cicatrizes. Mesmo conhecendo a doença e tendo um plano de ação, ela faz o possível para que a reação não ocorra. Para sair de casa para uma caminhada, Miriam precisa estar toda protegida, com protetor solar, roupas específicas para sua proteção e boné. Arquivo pessoal "Eu evito os horários críticos do Sol. Só depois das 16h30, arrisco uma caminhada e sempre com protetor solar, roupas compridas com proteção contra raios UV e boné. Boné é fundamental já que eu não consigo passar protetor na cabeça". Mas ela precisou se adaptar a outras atividades que fazia rotineiramente. "Feira livre, vôlei de praia, caiaque, passeio de barco são coisas que não faço mais. Não pego ônibus, só saio de carro durante o dia se souber que vou conseguir estacionar perto do lugar que preciso ir. Encontros com amigos e familiares normalmente são à noite, de dia só se for num local bem protegido do Sol", contou. ???? Clique aqui para seguir o canal do g1 ES no WhatsApp "Antes de sair, eu também olho um aplicativo que fala da incidência de raios ultavioleta. Me protejo e vou. E olha que não é só o Sol direto na pele, é o Sol refletido também, ou seja, se eu estiver num local com uma sombra parcial ou muito pequena, também sinto os efeitos", finaliza. Miriam até já rejeitou proposta de emprego por causa da alergia. "A minha sorte é que eu trabalho em escritório, fechado. Eu já recebi propostas para mudar de função, de promoção, mas não pude aceitar por causa disso", disse. Ao sair do trabalho e caminhar até um restaurante próximo, a Miriam ficou assim, vermelha e com a marca da cordinha do crachá. Arquivo pessoal Com o diagnóstico e o laudo médico, Miriam pôde ter acesso a alguns benefícios de pessoas com deficiência física, como, por exemplo, o direito ao uso de vagas de estacionamento prioritárias, para estar sempre mais próximo da entrada dos locais onde precisa ir. Na época em que recebeu o diagnóstico, Miriam encontrou um grupo no Facebook de pessoas do mundo inteiro com urticária solar. Na rede, eles compartilhavam depoimentos e até resultados de testes de dessensibilização e supostos remédios que ajudavam no quadro. Ela própria, entretanto, não teve sucesso com essas tentativas. Quando necessário, faz uso apenas de antialérgico, o que aumenta um pouco a sua tolerância ao Sol, mas não evita a reação. LEIA TAMBÉM: VÍDEO: Represa é esvaziada e toneladas de peixes são doadas no ES VÍDEO: Médica e enfermeira deixam de desfilar no Carnaval de Vitória, saem correndo para fazer parto e chegam à maternidade fantasiadas Aulas vão retornar e mais de 500 mil estudantes não tomaram vacina da Covid-19 no ES Ninguém na família da assitente executiva tem essa alergia ou qualquer outra pouco comum. Ela também não conhece ninguém que tenha se curado de urticária solar. Imagina que do mesmo jeito que apareceu pode desaparecer. Então, fica esperançosa para que um dia a sensibilidade desapareça. O que pode provocar esse tipo de alergia? A médica alergista e imunologista Karla Delevedove explicou que uma série de fatores podem influenciar no aparecimento de uma alergia, desde o contexto genético à exposições externas. "Quando um paciente tem parentes de primeiro grau com alergias, a chance dessa pessoa ter também a doença aumenta muito, mas não é determinante e nem significa que vai ser o mesmo tipo de alergia". Já as exposições externas também são gatilhos para desenvolver alergias, entre elas poluentes, poeira doméstica, alimentação com grande ingestão de alimentos multiprocessados e uso de medicação de forma precoce. "Existem relações externas que podem acontecer antes do nascimento até o momento do parto. Alimentação da mãe durante a gestação, uso de antibiótico pela mãe no último trimestre de gestação e parto cesárea já foram identificados como fatores que podem contribuir para a pessoa ser alérgica ou não". De acordo com a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), a estimativa é que 61 milhões de brasileiros sofram com algum tipo de alergia. Além disso, até 2050, metade da população vai ser alérgica. Uma pessoa e vários tipos de alergia: é possível? Diante desses dados, é muito provável que quase todo mundo conheça alguém que tenha algum tipo de alergia. Mas talvez não seja como o professor universitário, Lucas Gonçalves Dias, de 32 anos, que tem alergia a dezenas de coisas e segue descobrindo e aumentando a lista de cuidados. Lucas Gonçalves Dias, de 32 anos, é alérgico há diversos itens, que vão desde alimentos até látex. Arquivo pessoal O professor conta que alguns itens provocam alergia e dão início a uma reação anafilática mesmo sem serem ingeridos, apenas com o contato, como frutos do mar em geral, peixes, amendoim, canela e abacaxi. Estão nessa lista também látex, dipirona, coco, castanhas, alimentos de cor verde, cominho, açafrão, abelha, gato, entre outros. Para ele, comer fora de casa é algo que demora a ter confiança de se fazer, já que determinados estabelecimentos nem sempre aceitam preparar o alimento separadamente ou permitem que algo seja levado de casa. "O problema em locais assim se dá por contaminação cruzada (troca de talheres ou porções de alimentos que caem sobre o outro e os contaminam). Para maioria, foi só um toque ou só um 'farelo', para nós alérgicos é o suficiente para causar uma reação alérgica grave", explica. Viajar também pode ser um desafio para o professor. "Nós decidimos viajar para o exterior, para Portugal, com uma escala em Paris. Pesquisei quais procedimentos seriam necessários e avisei à companhia aérea das circunstâncias. Mas, quando começaram a servir o alimento na parte da frente do avião, o cheiro de peixe propagou muito rápido no avião. Eu comecei a me sentir mal, a transpirar, coçar, ficar vermelho. Corri para o banheiro do avião e ali fiquei o restante da viagem toda", relembrou. Flávia Medeiros, esposa de Lucas, enfrenta com ele a rotina de cuidados. Arquivo pessoal Para Lucas, nem em casa existe a garantia de segurança. "Uma vez, o vizinho estava cozinhando sururu com camarão. Eu estava em casa fervendo água para fazer o café e veio aquele cheiro de peixe. Como a casa inteira estava fechada, não tinha circulação de ar, eu não consegui pedir ajuda, foi um desespero". Ele contou o que aconteceu: "Cai já em crise anafilática. Eu apertei os botões de emergência do celular que disparam a minha localização e uma mensagem de socorro. Quando chegaram eu já estava roxo, me levaram para o hospital, eu já entrei em parada cardiorrespiratória e, por alguns minutos, eu fui declarado como morto". Tentativa de salvar quase termina em tragédia Um detalhe importante nesse caso é que durante todo o procedimento que fizeram para reanimar o Lucas, os profissionais estavam usando a luva de látex, material que para ele também é alergênico. Quanto mais ele recebia a massagem cardíaca, mais a crise se agravava por causa das luvas médicas. Hoje, o professor investiga se uma paralisia que apareceu no braço direito tem alguma relação com essa parada cardiorrespiratória. Nos últimos oito anos, foram 20 internações enfrentadas por ele. "Os perrengues acontecem, infelizmente, mesmo tomando uma série de cuidados. Nós alérgicos estamos sujeitos a toda uma sociedade que ainda não compreende as dificuldades e necessidades de atenção quanto a limpeza, higienização e a importância de se colocar nome dos ingredientes nas coisas. Sem contar, fatores que não estão dentro do nosso controle, como um cheiro que aparece, um contato inesperado". Recentemente, Lucas conseguiu na justiça o direito de importar a caneta de adrenalina. Ele chegou a ter uma crise anafilática em frente ao juiz, porque na sala de audiência tinha um aromatizador de ambiente que era de canela. "Eu comecei a ficar mole, suar transpirar, fechou a glote e eu desmaiei. Precisei ser socorrido de ambulância e ele de fato viu a velocidade que a crise em mim acontece. Assim, saiu o despacho para que o governo do estado fizesse a compra e eu tivesse acesso a caneta", explica. LEIA TAMBÉM: Homem de 46 anos morre após comer baiacu no ES Após 27 dias internado, avô alérgico que tirou a camisa para proteger o neto de picadas de abelhas morre no ES O que Lucas costuma falar nas redes sociais para pessoasalérgicas que o procuraram é que "há esperança". "Adrenalina salva vidas e com acesso a medicação e tratamento adequado, podemos viver bem e melhor. Falo isso como um adulto que superou toda uma infância de restrições e limitações por falta de atendimento médico adequado, acesso aos medicamentos e medo do amanhã por conta da gravidade das reações alérgicas", encerrou. Alergias podem aparecer e desaparecer A médica Karla Delevedove reforça que as alergias podem aparecer em qualquer fase da vida, mas também podem desaparecer. Algumas são mais resistentes, outras não. "Quando existe um diagnóstico a uma substância, o primeiro passo é excluir o alérgeno da vida do paciente. O segundo passo é fazer a medicação de controle, se tiver, além de fazer um plano de ação para os casos graves, o paciente precisa saber o que fazer. Testes de provocação e dessensibilização só devem ser feitos com supervisão médica", explicou. Segundo ela, não é possível fazer uma estimativa de quantas alergias existem, mas o que se percebe é o aumento de alergias, como, por exemplo, a frutas, como a banana. "Conforme a população vai mudando o seu estilo de vida, e introduzindo novas substâncias e alimentos a sua rotina, as alergias vão aparecendo, ficando mais ou menos comuns", esclarece. Entre as alergias que são menos comuns, a médica destaca a urticária solar (alergia ao Sol), alergia aquagênica (água), urticária ao frio (por exemplo, a temperatura da água do mar)e alergia a especiarias (cúrcuma, canela, gergelim). Vídeos: tudo sobre o Espírito Santo Veja o plantão de últimas notícias do g1 Espírito Santo

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