Dengue: três sorotipos e orientação do Ministério da Saúde sobre diagnóstico explicam alta nas internações em Campinas

Coordenadora do Devisa destaca que circulação de mais sorotipos na cidade com histórico de epidemias amplia chance de reincidência e casos mais graves. Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue Paulo Whitaker/Reuters Campinas (SP) tem registrado um boom de casos de dengue e a expectativa de especialistas é que o cenário de 2024 figure entre o das piores epidemias da história da cidade. Já são 6.025 infectados. E com o aumento de ocorrências, cresce a demanda por atendimento médico e a taxa de internações no município já apresenta aumento. Mas só isso explica a alta na hospitalização? Dados do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa), da Secretaria de Saúde, mostram que o percentual de internações chegou a 2,2% do total de casos de 2024, contra 1,7% do ano anterior. Em 2015, quando registrou o recorde de infectados, com 65 mil doentes e 22 mortes, a taxa ficou em 0,3%. ???? Participe do canal do g1 Campinas no WhatsApp Considerando o período de 1º de janeiro a 15 de fevereiro, por exemplo, a metrópole registrou 133 pessoas internadas nas redes pública e privada, sendo que 124 já receberam alta. No mesmo período do ano anterior, foram apenas 6. A média do período de hospitalização é de quatro dias. De acordo com Andrea Von Zuben, coordenadora do Devisa, a circulação de três sorotipos da doença em Campinas, um cidade com histórico de outras epidemias e que com isso amplia a possibilidade de reinfecção de pacientes, aliada a atualização do manual de diagnóstico e manejo clínico do Ministério da Saúde (MS), que preconiza maior cuidados em alguns casos para garantir a hidratação dos pacientes, ajudam a explicar tal aumento - entenda abaixo. Andrea ressalta que o total de infectados em Campinas deve continuar crescendo, uma vez que historicamente a cidade registra o maior número de notificações entre os meses de março a maio, mas que a dengue, de forma geral, apesar de ser "superincapacidente" pelos sintomas que provoca, em 98% dos casos não evolui para quadros graves. Dengue: Entenda por que a forma grave da doença não deve ser chamada de hemorrágica Dengue: Campinas muda protocolo para atender pacientes com sintomas; saiba quando procurar médico O que explica a alta? Segundo Andrea Von Zuben, dois fatores ajudam a explicar esse aumento percentual entre os internados em Campinas - dos 133 internados nas redes pública e privada desde o início de 2024, apenas nove seguem hospitalizados. "Vale destacar que este aumento de internações não excedeu a capacidade do sistema de saúde público. Ele está preparado para lidar com essa demanda adicional sem impactar em outros procedimentos hospitalares", reforça a Secretaria de Saúde, em nota. O primeiro fator, destaca a coordenadora do Devisa, tem relação com a circulação de três sorotipos da doença, com a reintrodução na cidade dos sorotipos 2 e 3 da dengue – fora de circulação desde 2021 e 2009, respectivamente. "Campinas é uma cidade que já teve epidemia em outros momentos, com outro sorotipo, e sempre que tem mais de um sorotipo circulante, a chance de adoecer pela segunda vez e ter gravidade, é maior. Mas também há casos em que a pessoa adoece a primeira vez e também tem gravidade", avisa. Mosquito transmissor da dengue Rogério Capela/PMC Outro fator que pode impactar no número de interção é a publicação da "6ª edição do Guia Dengue: Diagnóstico e Manejo Clínico" pelo Ministério da Saúde e que, segundo Andrea, preconiza maior cuidado com alguns pacientes com comorbidades e que tenham risco de complicações. Indicações para internações por dengue: Presença de sinais de alarme ou de choque, sangramento grave ou comprometimento grave de órgão; Recusa à ingestão de alimentos e líquidos. Comprometimento respiratório: dor torácica, dificuldade respiratória, diminuição do murmúrio vesicular ou outros sinais de gravidade. Impossibilidade de seguimento ou retorno à unidade de saúde por condições clínicas ou sociais. Comorbidades descompensadas ou de difícil controle, como diabetes mellitus, hipertensão arterial, insuficiência cardíaca, uso de dicumarínicos, crise asmática e anemia falciforme. Outras situações a critério clínico. "Mais do que nunca está havendo muito cuidado, uma análise de casos de pacientes com algumas doenças que podem descompensar. Há um cuidado para não dar alta. A dengue requer hidratação, muita hidratação, e tem pessoas que por diversos fatores não conseguem, podem ter uma comorbidade, uma dificuldade, que a partir da avaliação, o médico pode requerer a hospitalização para a hidratação intravenosa", detalha. Andre Von Zuben enfatiza ainda que esse período de internação, em geral, é curto - em média, quatro dias - e que a alta ocorre quando o paciente está estável, há mais de 24 horas sem qualquer alteração hemodinâmica ou febre, por exemplo. "A dengue não é uma doença que cursa com gravidade em 98% dos casos. Ela é muito chata, superincapacitante, dá fadiga, muita dor no corpo. Ter dengue é ruim. Mesmo os casos que são considerados le

Mar 8, 2024 - 17:37
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Dengue: três sorotipos e orientação do Ministério da Saúde sobre diagnóstico explicam alta nas internações em Campinas

Coordenadora do Devisa destaca que circulação de mais sorotipos na cidade com histórico de epidemias amplia chance de reincidência e casos mais graves. Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue Paulo Whitaker/Reuters Campinas (SP) tem registrado um boom de casos de dengue e a expectativa de especialistas é que o cenário de 2024 figure entre o das piores epidemias da história da cidade. Já são 6.025 infectados. E com o aumento de ocorrências, cresce a demanda por atendimento médico e a taxa de internações no município já apresenta aumento. Mas só isso explica a alta na hospitalização? Dados do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa), da Secretaria de Saúde, mostram que o percentual de internações chegou a 2,2% do total de casos de 2024, contra 1,7% do ano anterior. Em 2015, quando registrou o recorde de infectados, com 65 mil doentes e 22 mortes, a taxa ficou em 0,3%. ???? Participe do canal do g1 Campinas no WhatsApp Considerando o período de 1º de janeiro a 15 de fevereiro, por exemplo, a metrópole registrou 133 pessoas internadas nas redes pública e privada, sendo que 124 já receberam alta. No mesmo período do ano anterior, foram apenas 6. A média do período de hospitalização é de quatro dias. De acordo com Andrea Von Zuben, coordenadora do Devisa, a circulação de três sorotipos da doença em Campinas, um cidade com histórico de outras epidemias e que com isso amplia a possibilidade de reinfecção de pacientes, aliada a atualização do manual de diagnóstico e manejo clínico do Ministério da Saúde (MS), que preconiza maior cuidados em alguns casos para garantir a hidratação dos pacientes, ajudam a explicar tal aumento - entenda abaixo. Andrea ressalta que o total de infectados em Campinas deve continuar crescendo, uma vez que historicamente a cidade registra o maior número de notificações entre os meses de março a maio, mas que a dengue, de forma geral, apesar de ser "superincapacidente" pelos sintomas que provoca, em 98% dos casos não evolui para quadros graves. Dengue: Entenda por que a forma grave da doença não deve ser chamada de hemorrágica Dengue: Campinas muda protocolo para atender pacientes com sintomas; saiba quando procurar médico O que explica a alta? Segundo Andrea Von Zuben, dois fatores ajudam a explicar esse aumento percentual entre os internados em Campinas - dos 133 internados nas redes pública e privada desde o início de 2024, apenas nove seguem hospitalizados. "Vale destacar que este aumento de internações não excedeu a capacidade do sistema de saúde público. Ele está preparado para lidar com essa demanda adicional sem impactar em outros procedimentos hospitalares", reforça a Secretaria de Saúde, em nota. O primeiro fator, destaca a coordenadora do Devisa, tem relação com a circulação de três sorotipos da doença, com a reintrodução na cidade dos sorotipos 2 e 3 da dengue – fora de circulação desde 2021 e 2009, respectivamente. "Campinas é uma cidade que já teve epidemia em outros momentos, com outro sorotipo, e sempre que tem mais de um sorotipo circulante, a chance de adoecer pela segunda vez e ter gravidade, é maior. Mas também há casos em que a pessoa adoece a primeira vez e também tem gravidade", avisa. Mosquito transmissor da dengue Rogério Capela/PMC Outro fator que pode impactar no número de interção é a publicação da "6ª edição do Guia Dengue: diagnóstico e Manejo Clínico" pelo Ministério da Saúde e que, segundo Andrea, preconiza maior cuidado com alguns pacientes com comorbidades e que tenham risco de complicações. Indicações para internações por dengue: Presença de sinais de alarme ou de choque, sangramento grave ou comprometimento grave de órgão; Recusa à ingestão de alimentos e líquidos. Comprometimento respiratório: dor torácica, dificuldade respiratória, diminuição do murmúrio vesicular ou outros sinais de gravidade. Impossibilidade de seguimento ou retorno à unidade de saúde por condições clínicas ou sociais. Comorbidades descompensadas ou de difícil controle, como diabetes mellitus, hipertensão arterial, insuficiência cardíaca, uso de dicumarínicos, crise asmática e anemia falciforme. Outras situações a critério clínico. "Mais do que nunca está havendo muito cuidado, uma análise de casos de pacientes com algumas doenças que podem descompensar. Há um cuidado para não dar alta. A dengue requer hidratação, muita hidratação, e tem pessoas que por diversos fatores não conseguem, podem ter uma comorbidade, uma dificuldade, que a partir da avaliação, o médico pode requerer a hospitalização para a hidratação intravenosa", detalha. Andre Von Zuben enfatiza ainda que esse período de internação, em geral, é curto - em média, quatro dias - e que a alta ocorre quando o paciente está estável, há mais de 24 horas sem qualquer alteração hemodinâmica ou febre, por exemplo. "A dengue não é uma doença que cursa com gravidade em 98% dos casos. Ela é muito chata, superincapacitante, dá fadiga, muita dor no corpo. Ter dengue é ruim. Mesmo os casos que são considerados leves, eles não são agradáveis para as pessoas", afirma. Larvas do mosquito transmissor da dengue Rogério Capela/PMC Quando procurar atendimento? Mesmo que o cenário geral indique que a dengue em sua ampla maioria não evolui para a forma grave, a coordenadora do Devisa pede que os moradores não banalizem os sintomas e procurem ajuda médica diante dos menores sinais. "A chave é hidratação. Não é meia dúzia de copos. E não hidratar é que vai gerar a gravidade", explica. Diante do aumento de casos na metrópole, a Secretaria de Saúde mudou o protocolo de atendimento de pacientes com sintomas. Desde terça (20), a orientação é que os moradores procurem um centro de saúde assim que apresentarem febre. Antes, a recomendação da prefeitura era que os moradores procurassem atendimento médico quando o paciente apresentasse febre e mais dois sintomas associados, como dor de cabeça, dor no corpo, náusea, vômito, manchas no corpo, dor articular e dor atrás dos olhos. Ações de combate A Secretaria de Saúde de Campinas informa que desde dezembro de 2023 tem adotado medidas de prevenção e combate à dengue, tendo realizado a vistoria de 18,4 mil imóveis em quatro mutirões e "ações de visitas às residências que antecederam estes trabalhos específicos para orientar a população e eliminar criadouros do mosquito transmissor da doença". Os mutirões tiveram início em 6 de janeiro, nas regiões com mais casos suspeitos e confirmados, e devem prosseguir até abril. "Estatísticas do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa) mostram que 80% dos criadouros estão nas residências", destaca a pasta. VÍDEOS: tudo sobre Campinas e região Veja mais notícias da região no g1 Campinas

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